Língua Portuguesa 
O texto e sua articulação 
Organizadores 
Maria Lúcia V. de Oliveira Andrade 
Neide Luzia de Rezende 
Valdir Heitor Barzotto 
Elaboradora 
4
Maria Lúcia V. de Oliveira Andrade 
módulo 
Nome do Aluno 
GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO 
Governador: Geraldo Alckmin 
Secretaria de Estado da Educação de São Paulo 
Secretário: Gabriel Benedito Issac Chalita 
Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas – CENP 
Coordenadora: Sonia Maria Silva 
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO 
Reitor: Adolpho José Melfi 
Pró-Reitora de Graduação 
Sonia Teresinha de Sousa Penin 
Pró-Reitor de Cultura e Extensão Universitária 
Adilson Avansi Abreu 
FUNDAÇÃO DE APOIO À FACULDADE DE EDUCAÇÃO – FAFE 
Presidente do Conselho Curador: Selma Garrido Pimenta 
Diretoria Administrativa: Anna Maria Pessoa de Carvalho 
Diretoria Financeira: Sílvia Luzia Frateschi Trivelato 
PROGRAMA PRÓ-UNIVERSITÁRIO 
Coordenadora Geral: Eleny Mitrulis 
Vice-coordenadora Geral: Sonia Maria Vanzella Castellar 
Coordenadora Pedagógica: Helena Coharik Chamlian 
Coordenadores de Área 
Biologia: 
Paulo Takeo Sano – Lyria Mori 
Física: 
Maurício Pietrocola – Nobuko Ueta 
Geografia: 
Sonia Maria Vanzella Castellar – Elvio Rodrigues Martins 
História: 
Kátia Maria Abud – Raquel Glezer 
Língua Inglesa: 
Anna Maria Carmagnani – Walkyria Monte Mór 
Língua Portuguesa: 
Maria Lúcia Victório de Oliveira Andrade – Neide Luzia de Rezende – Valdir Heitor Barzotto 
Matemática: 
Antônio Carlos Brolezzi – Elvia Mureb Sallum – Martha S. Monteiro 
Química: 
Maria Eunice Ribeiro Marcondes – Marcelo Giordan 
Produção Editorial 
Dreampix Comunicação 
Revisão, diagramação, capa e projeto gráfico: André Jun Nishizawa, Eduardo Higa Sokei, José Muniz Jr. 
Mariana Pimenta Coan, Mario Guimarães Mucida e Wagner Shimabukuro 
Cartas ao 
Aluno 
Carta da 
Pró-Reitoria de Graduação 
Caro aluno, 
Com muita alegria, a Universidade de São Paulo, por meio de seus estudantes 
e de seus professores, participa dessa parceria com a Secretaria de Estado da 
Educação, oferecendo a você o que temos de melhor: conhecimento. 
Conhecimento é a chave para o desenvolvimento das pessoas e das nações 
e freqüentar o ensino superior é a maneira mais efetiva de ampliar conhecimentos 
de forma sistemática e de se preparar para uma profissão. 
Ingressar numa universidade de reconhecida qualidade e gratuita é o desejo 
de tantos jovens como você. Por isso, a USP, assim como outras universidades 
públicas, possui um vestibular tão concorrido. Para enfrentar tal concorrência, 
muitos alunos do ensino médio, inclusive os que estudam em escolas particulares 
de reconhecida qualidade, fazem cursinhos preparatórios, em geral de alto 
custo e inacessíveis à maioria dos alunos da escola pública. 
O presente programa oferece a você a possibilidade de se preparar para enfrentar 
com melhores condições um vestibular, retomando aspectos fundamentais da 
programação do ensino médio. Espera-se, também, que essa revisão, orientada 
por objetivos educacionais, o auxilie a perceber com clareza o desenvolvimento 
pessoal que adquiriu ao longo da educação básica. Tomar posse da própria 
formação certamente lhe dará a segurança necessária para enfrentar qualquer 
situação de vida e de trabalho. 
Enfrente com garra esse programa. Os próximos meses, até os exames em 
novembro, exigirão de sua parte muita disciplina e estudo diário. Os monitores 
e os professores da USP, em parceria com os professores de sua escola, estão 
se dedicando muito para ajudá-lo nessa travessia. 
Em nome da comunidade USP, desejo-lhe, meu caro aluno, disposição e vigor 
para o presente desafio. 
Sonia Teresinha de Sousa Penin. 
Pró-Reitora de Graduação. 
Carta da 
Secretaria de Estado da Educação 
Caro aluno, 
Com a efetiva expansão e a crescente melhoria do ensino médio estadual, 
os desafios vivenciados por todos os jovens matriculados nas escolas da rede 
estadual de ensino, no momento de ingressar nas universidades públicas, vêm se 
inserindo, ao longo dos anos, num contexto aparentemente contraditório. 
Se de um lado nota-se um gradual aumento no percentual dos jovens aprovados 
nos exames vestibulares da Fuvest — o que, indubitavelmente, comprova a 
qualidade dos estudos públicos oferecidos —, de outro mostra quão desiguais 
têm sido as condições apresentadas pelos alunos ao concluírem a última etapa 
da educação básica. 
Diante dessa realidade, e com o objetivo de assegurar a esses alunos o patamar 
de formação básica necessário ao restabelecimento da igualdade de direitos 
demandados pela continuidade de estudos em nível superior, a Secretaria de 
Estado da Educação assumiu, em 2004, o compromisso de abrir, no programa 
denominado Pró-Universitário, 5.000 vagas para alunos matriculados na terceira 
série do curso regular do ensino médio. É uma proposta de trabalho que busca 
ampliar e diversificar as oportunidades de aprendizagem de novos conhecimentos 
e conteúdos de modo a instrumentalizar o aluno para uma efetiva inserção no 
mundo acadêmico. Tal proposta pedagógica buscará contemplar as diferentes 
disciplinas do currículo do ensino médio mediante material didático especialmente 
construído para esse fim. 
O Programa não só quer encorajar você, aluno da escola pública, a participar 
do exame seletivo de ingresso no ensino público superior, como espera se 
constituir em um efetivo canal interativo entre a escola de ensino médio e 
a universidade. Num processo de contribuições mútuas, rico e diversificado 
em subsídios, essa parceria poderá, no caso da estadual paulista, contribuir 
para o aperfeiçoamento de seu currículo, organização e formação de docentes. 
Prof. Sonia Maria Silva 
Coordenadora da Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas 
Apresentação 
da área 
Apresentação 
da área 
Os módulos de Língua Portuguesa deste curso constituem uma forma de levar 
você, aluno de ensino médio, a refletir sobre a sua língua materna, oferecendo subsídios 
para melhoria e aprimoramento de seus conhecimentos lingüísticos. 
Compusemos o material numa progressão que leva em conta, em primeiro lugar, 
o seu processo de amadurecimento. Assim, partindo de realidades vivencialmente 
próximas, o grau de abstração se intensifica dentro da cada unidade e de um módulo 
para outro. 
Estruturamos os módulos em torno de uma posição fundamental: os tópicos gramaticais 
e textuais constantes do currículo do ensino médio só assumem seu significado 
pleno quando focalizados a partir da linguagem, entendida como faculdade 
inerente ao ser humano, pela qual ele interage com seus semelhantes. Por essa razão 
não fizemos uma separação rígida de assuntos, o que deturparia o caráter essencialmente 
flexível dos problemas de linguagem. 
Dentro desta perspectiva, foram organizados os quatro módulos de Língua Portuguesa 
e seus respectivos conteúdos: variabilidade da linguagem e noção de norma, 
morfossintaxe das classes de palavras, processos de organização da frase, organização 
e articulação do texto, o problema da significação e os recursos de estilo. 
Preocupamo-nos com que as aulas levem você a refletir criticamente sobre sua 
vivência lingüística e, em contato com as normas gramaticais vigentes, habilitem-no a 
interpretar e a produzir textos representativos das mais diversas situações interacionais. 
Com o material que preparamos, você terá a oportunidade de rever os pontos 
mais importantes sobre a Língua Portuguesa e fazer atividades para avaliar seu progresso 
e possíveis dificuldades. 
Procure ver essa fase de estudos como mais uma oportunidade de aprendizagem 
sobre o mundo, a sociedade em que vive e sobre você mesmo. Se você entrar nela 
com esse espírito, seguramente sairá dela enriquecido – não apenas de conhecimentos 
para ingressar na Universidade, mas também de informações e pontos de vista 
novos que servirão em toda a sua vida. Daí, sim, você poderá olhar o mundo com 
confiança. Você pode não se transformar em um cientista, mas será sem dúvida uma 
pessoa que tem conhecimentos e informações e é capaz de usá-los da melhor maneira 
possível. Afinal, vale a pena investir em você mesmo. 
Maria Lúcia da Cunha Victório de Oliveira Andrade 
Coordenadora de Língua Portuguesa 
Apresentação 
do módulo 
Apresentação 
do módulo 
Neste módulo, serão discutidas questões relativas à articulação do texto. 
Trataremos das estratégias lingüísticas para a construção do sentido textual, 
dos recursos expressivos, da citação, dos níveis de significação do texto e da 
intertextualidade. 
Em cada unidade, após a explicação referente ao conteúdo da disciplina, 
apresentamos atividades para que você possa praticar o que aprendeu e, em 
seguida, indicamos sugestões de leitura e atividades complementares. 
Maria Lúcia da Cunha Victório de Oliveira Andrade 
Coordenadora de Língua Portuguesa 
Unidade 1 
Estratégias de articulação do texto: 
coesão lexical e gramatical 
Unidade 1 
Estratégias de articulação do texto: 
coesão lexical e gramatical 
Num texto, certos elementos comparam-
se aos fios que costuram entre si as partes de 
uma vestimenta. Cortados esses fios, o que 
sobra são simples pedaços de pano. 
(Fiorin e Savioli, 1996: 367). 
Ao analisarmos essa afirmação dos autores, verificamos que um texto 
bem construído é aquele que permite ao leitor compreender o que está sendo 
dito, sem que este se perca entre os enunciados que o constituem, nem perca 
a noção de conjunto. É possível, portanto, perceber a conexão existente entre 
os vários segmentos textuais e compreender que todos estão interligados, criando 
um todo coeso e coerente. 
Para exemplificar o que foi dito, observemos o texto a seguir. 
(1) 
Para os humanistas renascentistas e os filósofos iluministas do século 
XVIII, a Idade Média foi um período soturno, coberto pela longa 
noite da superstição, governado pelo obscurantismo de senhores e párocos, 
marcado pelo fanatismo religioso, povoado por camponeses famintos 
e vulneráveis aos acidentes da vida. Enfim, a Idade das Trevas. 
Ao longo do século XIX e até a segunda metade do século passado, 
essa visão negativa da Idade Média passou de geração em geração, 
abandonada pelos livros didáticos. Até que historiadores do século XX, 
os medievalistas na vanguarda, começaram a desmontar esse mito 
historiográfico. 
Estudos recentes revelaram as profundas transformações ocorridas 
nos séculos XIV e XV. Os casamentos freqüentemente eram arranjados 
pelos pais, mas o rapto por mútuo consentimento era o expediente empregado 
pelas moças para escolher seus maridos. Os bordéis acolhiam 
alegremente os celibatários, com as bênçãos da municipalidade, preocupada 
em preservar a virtude das donzelas. Estas tomavam parte nas 
festas, em que o flerte era a atividade principal. A homossexualidade 
era tolerada, desde que respeitasse conveniente discrição. Os desvalidos 
contavam com um meio urbano solidário, que engendrou diversos 
mecanismos de proteção social. Já no século XII, uma sociedade desejosa 
de saber criou a universidade e o poder estudantil, e estimulou o 
uso da escrita. Logo, a escola se tornou estratagema de ascensão social, 
e jovens de ambos os sexos, mulheres em menor número, buscaram nos 
Organizadores 
Maria Lúcia V. de 
Oliveira Andrade 
Neide Luzia de 
Rezende 
Valdir Heitor 
Barzotto 
Elaboradora 
Maria Lúcia V. de 
Oliveira Andrade 
...... .......... 
livros um lugar na sociedade. Definitivamente, foram dissipadas as trevas 
que deformaram a nossa visão de Idade Média. 
(Novas luzes revelam outra Idade Média. In: História Viva. São Paulo: 
Editorial Duetto, ano I, nº 5, março de 2004, p; 28). 
Como você pode verificar, os enunciados desse texto não estão aglomerados 
caoticamente, mas estritamente interligados, permitindo que se perceba a 
conexão entre as partes. A essa conexão interna entre os vários segmentos 
presentes no texto dá-se o nome de coesão. Portanto, um texto coeso é aquele 
que apresenta enunciados “organicamente articulados entre si” (Fiorin e Savioli, 
1990: 271), ou seja, quando há concatenação entre as idéias apresentadas por 
meio da articulação das palavras e frases. 
A coesão de um texto não é fruto do acaso. Na verdade, é o resultado das 
relações de sentido estabelecidas entre os enunciados. Essas relações são manifestadas 
por determinadas categorias de palavras, as quais são denominadas 
elementos de conexão ou conectivos. A função destes elementos é a de colocar 
em evidência as várias relações de sentido que existem entre os enunciados. 
Voltando ao texto (1), podemos observar a função de alguns desses elementos 
de coesão. 
No primeiro parágrafo, após encadear (por meio do uso de adjetivos, particípios 
e pontuação) uma série de caracterizações feitas pelos humanistas 
renascentistas e os filósofos iluministas sobre a época medieval (“foi um período 
soturno, coberto pela longa noite da superstição, governado pelo obscurantismo 
de senhores e párocos, marcado pelo fanatismo religioso, povoado 
por camponeses famintos e vulneráveis aos acidentes da vida”), o autor do 
texto sintetiza a idéia básica que deseja transmitir ao seu leitor. Para isso, faz 
uso do advérbio enfim indicando que passará a introduzir o último enunciado 
desse parágrafo que define o período histórico analisado sob tal ótica: “Enfim, 
a Idade das Trevas”. 
Já no segundo parágrafo, o autor precisa apresentar as idéias relativas à 
perspectiva dos historiadores do século XX que se contrapõem àquela dos 
estudiosos mencionados anteriormente. Contudo, antes de anunciar essas novas 
idéias, ele retoma o ponto de vista desenvolvido no primeiro parágrafo 
por meio de “essa visão negativa da Idade Média passou de geração em geração...”. 
Aqui a conexão é estabelecida por meio da expressão nominal (“visão 
negativa”) que define como os estudiosos anteriores à segunda metade do 
século XX viam a Idade Média. Como essa explicação já havia sido feita, o 
autor faz uso do pronome demonstrativo essa que, por ser um pronome 
anafórico – isto é, serve para fazer uma retomada –, exige a atenção do leitor 
para buscar o sentido no elemento antecedente (nesta ocorrência, diz respeito 
a todo o primeiro parágrafo). 
Ainda neste parágrafo, temos o uso da preposição até, sendo empregada 
para estabelecer uma relação semântica de tempo. Vejam-se os trechos: 
a. 
“Ao longo do século XIX e até a segunda metade do século passado....”, 
em que a preposição até estabelece uma relação semântica de momento 
no tempo a que se chega uma ação/processo/estado, e o termo século 
passado expressa o limite final temporal. 
b. 
“Até que historiadores do século XX (...) começaram a desmontar esse 
mito historiográfico”, em que a preposição até+que+oração com verbo 
finito indica limite temporal. 
.. 
...... .. - . ..... . ... ........... 
No último parágrafo, encontramos, por exemplo, um trecho em que o 
autor fala a respeito dos casamentos na Idade Média: “Os casamentos freqüentemente 
eram arranjados pelos pais”; no segmento seguinte, expressa uma 
informação contrária à primeira e, para introduzir essa segunda oração, precisa 
empregar um elemento de coesão que estabeleça a relação pretendida, no 
caso o conectivo mas (conjunção coordenativa adversativa). 
Continuando a observar os recursos coesivos empregados na construção 
deste parágrafo, encontramos outros importantes, como: 
a. 
pronome demonstrativo estas: no trecho “Estas tomavam parte nas festas”, 
em que o pronome retoma o termo imediatamente anterior (“... 
donzelas”), por meio de uma anáfora, isto é, para preencher a forma pronominal 
que é esvaziada de sentido, o leitor precisa voltar ao segmento 
anterior e estabelecer a relação entre os dois segmentos. 
b. 
pronome relativo em que: no trecho “nas festas... em que o flerte era a 
atividade principal”, serve para retomar o termo nas festas, introduzindo a 
oração subordinada adjetiva. 
c. 
locução conjuntiva desde que: no trecho “A homossexualidade era tolerada, 
desde que respeitasse conveniente discrição”, a locução introduz uma 
oração que implica condição para que a oração anterior se realize. A oração 
subordinada é denominada pela gramática normativa de oração subordinada 
adverbial condicional. 
d. 
advérbio definitivamente: ocorre no segmento final “Definitivamente, foram 
dissipadas as trevas que deformaram a nossa visão de Idade Média”. 
Nesse trecho, o advérbio que é classificado pela gramática normativa como 
advérbio de modo (adjetivo definitivo + sufixo -mente) serve para apresentar 
a avaliação final do autor a respeito da Idade Média, exercendo a função 
de um advérbio modalizador que introduz a conclusão do texto; ou seja, o 
conteúdo do que se afirma por meio desse advérbio é dado como um fato 
partilhado entre autor e leitor, e que é reforçado pelo advérbio. 
Por meio dos elementos levantados no texto (1), você pôde ver que são 
várias as palavras que, num texto, assumem a função de conectivo ou elemento 
de coesão: 
• 
as preposições: a, até, de, para, com , por etc; 
• as conjunções: e, mas, ou, embora, que, para que, quando etc; 
• os advérbios: aqui, aí, lá, agora, já, enfim, logo etc; 
• os pronomes: ele, ela, seu sua, este, esta, isto, esse, essa, isso, aquele, 
que, o qual etc. 
Há, portanto, dois tipos básicos de coesão: 
1- A retomada de termos, expressões ou frases já ditas ou a sua antecipação: 
a. 
por uma palavra gramatical (pronomes, verbos ser e fazer – Paulo estuda 
e José faz o mesmo –, numerais, advérbios); 
b. 
retomada por palavra lexical (substantivos, verbos, adjetivos). 
.. 
...... .......... 
2- O encadeamento de segmentos do texto: 
a. 
conexão: é realizada por conectores ou operadores discursivos (também 
denominados conectivos ou conjunções pela gramática normativa), que 
devem ser vistos como elementos que trazem para o texto uma orientação 
argumentativa, e não como meros elementos relacionais. São exemplos 
de conectores: e, mas, porém, embora, portanto, já que, pois etc. Desse 
modo, este item engloba muitos outros termos que fazem parte de vocábulos 
que, segundo a Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB), não se 
enquadram nas dez classes gramaticais. Bechara, por exemplo, denomina 
essas palavras de: denotadores de inclusão (até, mesmo, também); de exclusão 
(só, apenas, senão); de retificação (aliás, ou melhor); de situação 
(então, afinal). Estas são palavras ou expressões responsáveis pela concatenação 
ou encadeamento de relações entre os segmentos textuais. 
b. 
justaposição: faz-se pelo estabelecimento da seqüenciação com ou sem o 
uso de conectores. Quando o texto se organiza sem seqüenciadores, cabe 
ao leitor reconstruir, com base na seqüência apresentada, os operadores 
discursivos que não estão presentes na superfície textual. Nesse caso, o lugar 
do conector é marcado, na escrita, por sinais de pontuação (vírgula, 
ponto e vírgula, dois pontos, ponto) e, na fala, pelas pausas. A justaposição 
com conectores estabelece um encadeamento coesivo entre porções maiores 
ou menores da superfície textual e pode ser marcada por: seqüência 
temporal (dois meses, uma semana, ontem); ordenação espacial (à esquerda, 
atrás, abaixo); especificação da ordem dos assuntos (primeiro, a seguir, 
finalmente); introdução de um dado tema ou para mudar de assunto (por 
falar nisso, a propósito, mas voltando ao assunto, fazendo um parêntese). 
O uso apropriado desses elementos de coesão garante unidade ao texto e 
contribui, de modo considerável, para que as idéias sejam expressas com clareza 
e adequação. 
Vejamos o texto (2), publicado no jornal Folha de S. Paulo, em 27 de 
agosto de 2004 – caderno A, p.6: 
(2) 
Ele sempre nos leva a lugares novos, interessantes. Ele vai e apresenta onde vamos 
viver.Defende e briga por nós. Consegue o melhor para a gente. Ele nos providencia 
uma moradia. Ele se preocupa com a gente. Depois de um tempo, aparece com uma 
proposta incrível. Uma casa na praia ou no campo. Ele se importa com o lugar onde 
vamos passar as férias com a nossa família. Ele não tem obrigação de pensar nisso, mas, 
mesmo assim, pensa. Nossa satisfação, nosso sorriso no rosto de estar bem abrigado é 
a sua alegria. Ele vive pra isso. Até quando o assunto é trabalho, ele está lá para nos 
orientar.“Aqui sua empresa vai decolar”, diz orgulhoso, do alto de toda a sua experiência. 
Ele sabe das coisas. Ele sabe que nós precisamos dele. E ainda bem que ele sempre 
está lá, à nossa disposição. 
Uma homenagem do Grupo Cyrela ao Dia do Consultor Imobiliário 
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.. 
...... .. - . ..... . ... ........... 
Ao iniciar a leitura, podemos estranhar que o texto comece com um pronome 
ele que só vai ser preenchido se chegarmos ao final. O uso dessa estratégia 
coesiva de antecipação, denominada catáfora, indica que devemos procurar 
nos elementos que se seguem onde está o sentido textual (ele = consultor 
imobiliário, que somente será percebido se o leitor observar os elementos 
contextualizadores da propaganda, ou seja, os elementos que ancoram o texto: 
“título”, quem produziu, onde foi publicado, data). Essa estratégia cria 
certa curiosidade e expectativa, fazendo com que o leitor avance e busque o 
sentido. Antes de chegar a preencher o sentido do pronome ele, o leitor pode 
constatar que o enunciador usa repetições do item lexical (ele) ou em outros 
momentos usa o recurso da elipse (a forma verbal em 3a pessoa sem uso do 
pronome explícito). 
Atividades 
1. Releia a propaganda acima e levante outros elementos coesivos estudados 
nesta unidade, além da repetição do pronome ele e de sua elipse. 
2. Analise, nos textos colocados a seguir, os processos coesivos de construção 
do referente (atente para as escolhas lexicais e sintáticas) e explique como a 
coerência (organização de sentido) é construída. Observe também a pontuação 
de cada um dos textos e comente. 
Texto A 
Quadrilha 
João amava Teresa que amava Raimundo 
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili 
que não amava ninguém. 
João foi pra os Estados Unidos, Teresa para o convento, 
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia, 
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes 
que não tinha entrado na história. 
(Andrade, Carlos Drummond de. Poesia completa. Rio de Janeiro: 
Nova Aguilar, 2002, p. 26) 
.. 
...... .......... 
Texto B 
Cidadezinha qualquer 
Casas entre bananeiras 
mulheres entre laranjeiras 
pomar amor cantar. 
Um homem vai devagar. 
Um cachorro vai devagar. 
Um burro vai devagar. 
Devagar... as janelas olham... 
Eta vida besta, meu Deus. 
(Andrade, Carlos Drummond de. Poesia completa. Rio de Janeiro: 
Nova Aguilar, 2002, p. 23) 
Texto C 
Relatório ao governador 
(texto redigido pelo então prefeito de Palmeira dos Índios – Graciliano 
Ramos – no estado de Alagoas, em 10/11/1929) 
O principal (...) foi estabelecer alguma ordem na administração. Havia 
em Palmeira dos Índios inúmeros prefeitos: os cobradores de impostos, 
o Comandante do Destacamento, os soldados, outros que desejassem 
administrar. Cada pedaço do Município tinha a sua administração 
particular, com Prefeitos coronéis e Prefeitos inspetores de quarteirão. 
Os fiscais, esses resolviam questões de polícia e advogavam. Para 
que semelhante anomalia desaparecesse, lutei com tenacidade e encontrei 
obstáculos dentro da Prefeitura e fora dela – dentro, uma resistência 
mole, suave, de algodão em rama; fora, uma campanha sorna, oblíqua, 
carregada de bílis. Pensavam uns que tudo ia bem nas mãos do Nosso 
Senhor, que administrava melhor do que todos nós; outros me davam 
três meses para levar um tiro. Dos funcionários que encontrei em janeiro 
passado restam poucos. Saíram os que faziam política e os que não 
faziam coisa nenhuma. Os atuais não se metem onde não são necessários, 
cumprem as suas obrigações e, sobretudo, não se enganam nas 
contas. Devo muito a eles. Não sei se a administração do Município é 
boa ou ruim. Talvez pudesse ser pior. (...) 
Cuidei bastante da limpeza pública. As ruas estão varridas, retirei da 
cidade o lixo acumulado pelas gerações que por aqui passaram; incinerei 
monturos imensos, que a Prefeitura não tinha recursos suficientes 
para remover. Houve lamúrias e reclamações por se haver mexido no 
cisco preciosamente guardado nos fundos dos quintais; lamúrias, reclamações, 
ameaças, guinchos, berros e coices dos fazendeiros que viram 
bichos nas praças. Durante meses mataram-me o bicho do ouvido com 
reclamações de toda a ordem contra o abandono em que se deixava a 
melhor entrada para a cidade. Chegaram lá pedreiros – outras reclamações 
surgiram, porque as obras irão custar um horror de contos de réis, 
dizem. Custarão alguns, provavelmente. Não tanto quanto as pirâmides 
do Egito, contudo. O que a Prefeitura arrecada basta para que nos não 
resignemos às modestas tarefas de varrer as ruas e matar cachorros. (...) 
.. 
...... .. - . ..... . ... ........... 
Procurei sempre os caminhos mais curtos. Nas estradas que se abriram 
só há curvas onde as retas foram inteiramente impossíveis. Evitei 
emaranhar-me em teias de aranha. Certos indivíduos, não sei por que, 
imaginam que devem ser consultados; outros que se julgam autoridade 
bastante para dizer aos contribuintes que não paguem impostos. Não 
me entendi com esses. 
Há quem ache tudo ruim, e ria constrangidamente, e escreva cartas 
anônimas, e adoeça, e se morda por não ver a infalível maroteirazinha, 
a abençoada canalhice, preciosa para quem a pratica, mais preciosa ainda 
para os que dela se servem como assunto invariável; há quem não 
compreenda que um ato administrativo seja isento de lucro pessoal; há 
até quem pretenda embaraçar-me em coisa tão simples como mandar 
quebrar as pedras dos caminhos. Fechei os ouvidos, deixei gritarem, 
arrecadei 1:325$500 de multas. 
Não favoreci ninguém. Devo ter cometido numerosos disparates. 
Todos os meus erros, porém, foram da inteligência, que é fraca. 
Perdi vários amigos, ou indivíduos que possam ter semelhante nome. 
Não me fizeram falta. 
Há descontentamento. Se a minha estada na Prefeitura por estes dois 
anos dependesse de um plebiscito, talvez eu não obtivesse dez votos. 
(“Um certo prefeito de Alagoas”, matéria publicada na revista História 
viva, março de 2004, p. 88-94, por Ruy Tapioca). 
Texto D 
De unhas pintadas, mas muito machos 
Eles usam cremes para o rosto e corpo, praticam ginástica, cuidam 
do cabelo, fazem as unhas, depilam as sobrancelhas, estão 
sempre vestindo roupas da moda (e de grife) e – acredite – não 
são gays. Metrossexual foi o termo criado pelo jornalista inglês 
Mark Simpson para classificar o homem heterossexual que tem 
dinheiro, vive na ou próximo da metrópole e que se preocupa 
com a aparência. 
O escolhido para simbolizar esse novo homem, que continua gos
tando de mulheres, mas não dispensa uma tarde no cabeleireiro, 
foi o capitão da seleção inglesa de futebol David Beckham – cujos atributos físicos foram 
(justamente) homenageados em um vídeo, exibido em uma galeria de arte de Londres, 
denominado ‘David’,referência à escultura de Michelangelo sobre a perfeição masculina. 
Para quem acha que homem vaidoso não é macho, Miriam Goldemberg, antropóloga da 
UFRJ, explica que antes da Revolução Francesa, os homens se enfeitavam tanto ou mais 
do que as mulheres. Depois foram proibidos de ter um tipo de vaidade associada à 
aparência. Sinal dos tempos, agora quanto mais arrumado, melhor. 
(Texto retirado da Revista Galileu, junho de 2004, nº.155 – também disponível no site 
www.galileu.globo.com) 
.. 
...... .......... 
3. Leia a declaração de Giorgio Armani (estilista italiano de 70 anos, dono da 
grife que leva seu nome, com 250 lojas espalhadas pelo mundo, incluindo 
quatro no Brasil) dada à jornalista Bel Moherdaui, em entrevista à Veja e 
publicada em 6 de outubro de 2004, nas páginas amarelas. A seguir, comente 
a respeito do processo de articulação textual; ou seja, quais estratégias de 
coesão foram empregadas? Levante cada uma delas e explique. 
Pergunta feita pela Veja – Ultimamente o senhor tem trabalhado bastante 
com esportistas. Veste o time inglês de futebol, agora também a 
seleção italiana de basquete e chamou o brasileiro Kaká para estrelar 
uma de suas campanhas. Por quê? 
Armani – O esporte, como a música, atrai muitos jovens. Não tem fronteiras, 
não tem diferenças. E esse tipo de público cosmopolita é meu 
público-alvo. Além disso, tem a vantagem de que, em geral, os esportistas 
são muito bonitos. São quase modelos e, ao mesmo tempo, são ídolos. 
Se vestem Armani, melhor ainda. (p. 15). 
RITMO E SONORIDADE 
Outra estratégia de coesão que devemos estudar são os recursos expressivos: 
ritmo e sonoridade. Segundo a professora Leonor Lopes Fávero, em seu 
livro Coesão e coerência textuais, o ritmo é um elemento importante na formação 
do texto. “A duração relativa das sílabas está ligada, de um lado, à 
posição das pausas, acentos e entoação; de outro, a mudança do tempo pode 
constituir por si só uma função delimitadora ou de realce” (1995, p. 30). 
Para entendermos melhor a função do ritmo na obtenção da coesão, devemos 
observar a sucessão de movimentos que se estabelecem no jogo textual. 
Assim, vejamos o poema simbolista: 
.. 
...... .. - . ..... . ... ........... 
(3) 
A E I O U 
Manhã de primavera. Quem não pensa 
Em doce amor, e quem não amará? 
Começo a vida. A luz do céu é imensa... 
A adolescência é toda sonhos. A. 
O luar erra nas almas. Continua 
O mesmo sonho de oiro, a mesma fé. 
Olhos que vemos sob a luz da lua... 
A mocidade é toda lírios. E. 
Descamba o sol nas púrpuras do ocaso 
As rosas morrem. Como é triste aqui! 
O fado incerto, os vendavais do acaso... 
Marulha o pranto pelas faces. I. 
A noite tomba. O outono chega. As flores 
Penderam murchas. Tudo, tudo é pó. 
Não mais beijos de amor, não mais amores... 
Ó sons de sinos a finados! O. 
Abre-se a cova. Lutelenta e lenta, 
A morte vem. Consoladora és tu! 
Sudários rotos na mansão poeirenta... 
Crânios e tíbias de defunto. U. 
(Guimaraens, Alphonsus de. Obra completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 
1960, p. 506)
 No poema o autor emprega as vogais, que dão título ao texto, para encerrar 
cada uma das estrofes. Entretanto, essas vogais servem não só para efeito 
de rima, como também para revelar valores simbólicos em relação às fases da 
vida do homem descritas em segmento. 
Os recursos de motivação sonora – por exemplo, assonâncias, aliterações, 
ritmo, rima – auxiliam no estabelecimento da coesão, fazendo o texto progredir 
de maneira especial. Leia o texto: 
(4) 
Relógio 
As coisa são 
As coisas vêm 
As coisas vão 
As coisas 
Vão e vêm 
Não em vão 
As horas 
Vão e vêm 
Não em vão 
(Andrade, Oswald de. Trechos escolhidos. Rio de Janeiro: Agir, 1967, 
p. 41) 
Neste texto, a linguagem é organizada de tal modo que transforma o caráter 
linear da sintaxe verbal e recupera analogicamente as qualidades físicas, 
.. 
...... .......... 
sensíveis do objeto descrito. O movimento da ida e vinda das palavras (sonoridade) 
no seu campo de relações (umas com as outras) acaba sugerindo o 
movimento pendular do relógio. A descrição feita pelo poeta não disseca o 
relógio em seus componentes, mas flagra uma estrutura cíclica à maneira do 
movimento cíclico do tempo (relógio). 
Usando recursos modernos da propaganda, o texto (5) – criado em 1957 
pelo poeta Décio Pignatari – já é considerado um clássico da poesia concreta. 
Nele, há a crítica ao produto e também à estratégia persuasiva usada nos anúncios 
que divulgam esse produto. Assim, a partir do slogan “Beba Coca-Cola”, 
o poeta elabora permutações intencionais e obtém uma anti-propaganda que 
denuncia o domínio de uma fórmula sobre as massas. Cabe destacar que a 
ironia é a chave para compreender o poema. 
(5) 
beba coca cola 
babe cola 
beba coca babe cola caco 
caco 
cola
 cloaca 
(Poesia Pois É Poesia. Concreta. São Paulo: Duas Cidades, 1977, 113). 
Segundo os críticos literários, esse texto é um exemplo significativo de 
poesia participante num momento em que a forma é rigorosa e essencial para 
a estética. 
Atividades 
1. Leia o texto colocado abaixo de autoria do poeta Augusto de Campos: 
pluvial / fluvial
 p 
p l 
p l u 
p l u v
 p l u v i 
p l u v i a 
f l u v i a l 
f l u v i a l 
f l u v i a l 
f l u v i a l 
f l u v i a l 
f l u v i a l 
(In: Antologia da literatura brasileira. Antonio Medina Rodrigues et. al. 
São Paulo: Marco Editorial, 1979, vol. II, p. 350) 
.. 
...... .. - . ..... . ... ........... 
2. Partindo da idéia de que, em poesia, o som se acha sempre associado ao 
sentido, registre algumas sensações provocadas pelo texto. 
3. Esse poema concreto é formado pela disposição reiterada dos adjetivos 
pluvial (de chuva) e fluvial (de rio). O primeiro escrito na vertical e o segundo, 
na horizontal. Dê sua impressão visual sugerida pelo poema. 
SUGESTÕES DE LEITURA 
Como já foi dito nos módulos anteriores, é importante que você leia constantemente 
jornais e/ou revistas para manter-se atualizado. Também é necessário 
ler as obras básicas da literatura nacional e internacional para poder refletir 
sobre o trabalho com os textos, sua construção e organização de sentido. 
Se você deseja ler livros e não tem tempo de ir à biblioteca, pode consultar 
os sites de bibliotecas virtuais; neles você encontrará textos completos de livros 
de diversos autores indicados para os principais vestibulares do país: 
www.bibvirt.futuro.usp.br (neste site você pode consultar as principais obras 
indicadas no vestibular da Fuvest); 
www.uol.com.br/cultivox (aqui você encontra mais de 300 e-livros – livros 
eletrônicos – grátis); 
www.bibliotecavirtual.org.br (site da biblioteca virtual da UFBA). 
http://sites.uol.com.br/fredb (Leituras na Rede é o site criado pelo escritor e 
professor Federico Barbosa; nele você pode ler a edição integral de 
algumas das obras fundamentais das literaturas brasileira e portuguesa) 
Para saber mais sobre Graciliano Ramos, autor que utilizamos em um dos 
textos desta unidade, consulte os seguintes livros: 
MORAES, Denis de. O velho Graça. Rio de Janeiro: José Olympio, 1992. 
RAMOS, Clara. Mestre Graciliano. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1979. 
LIMA, Valdemar de. Graciliano Ramos em Palmeira dos Índios. Rio de 
Janeiro: Civilização Brasileira, 1980. 
LIMA, Mário Hélio Gomes de (org.) Relatórios. Recife: Record, 1994. 
Você ainda pode navegar pelo site www.graciliano.com.br produzido pela 
família do escritor. Nele encontrará notícias sobre sua obra, manuscritos, álbum 
de família etc. 
Para obter mais informações sobre poesia concreta, leia “Poesia Concreta” 
– seleção de textos notas, estudos biográfico, histórico e crítico e exercícios 
por Iumna Maria Simon e Vinicius de Ávila Dantas (orgs.). Literatura Comentada. 
São Paulo: Abril, 1982. 
.. 
...... .......... 
Para conhecer mais sobre coesão e coerência textuais, consulte os seguin
tes livros: 
FÁVERO, Leonor Lopes. Coesão e coerência textuais. 3.ed. São Paulo: 
Ática (série princípios), 1995. 
FIORIN, José Luiz e SAVIOLI, Francisco Platão. Para entender o texto: 
leitura e redação. São Paulo: Ática, 1990. 
FIORIN, José Luiz e SAVIOLI, Francisco Platão. Lições de texto: leitura e 
redação. São Paulo: Ática, 1996. 
KOCH, Ingedore G. V. A coesão textual. São Paulo: Contexto, 1989. 
KOCH, Ingedore G. V. A coerência textual. São Paulo: Contexto, 1990. 
.. 
Unidade 2 
Discurso reportado (citação): 
discurso direto, indireto e indireto livre 
Unidade 2 
Discurso reportado (citação): 
discurso direto, indireto e indireto livre 
Ao construir um texto, você pode mostrar a presença de outras vozes, 
trazendo para a cena e demarcando lugares e limites; pode ainda deixá-las 
implícitas, por conta da memória do leitor. Entretanto, para escolher dentre as 
várias possibilidades que a língua oferece, é preciso conhecer um pouco cada 
um desses recursos lingüísticos. 
Num texto narrativo, entram em cena personagens que dialogam entre si, 
manifestando seu discurso. Nesta unidade, vamos estudar os recursos que o 
narrador pode utilizar para reproduzir o discurso de tais personagens, ou seja, 
como ele insere na narrativa a fala que não lhe pertence. 
Basicamente, há três recursos para citar o discurso do outro: discurso direto, 
discurso indireto e discurso indireto livre. Vejamos cada um deles: 
DISCURSO DIRETO 
As histórias em quadrinhos e as charges usam, freqüentemente, o discurso 
direto. Nesse gênero textual, a fala de cada personagem é associada diretamente 
à sua imagem, permitindo ao leitor apreender as diversas vozes mostradas 
no texto. 
(1) 
Rato de Sebo 
® Custódio 
Organizadores 
Maria Lúcia V. de 
Oliveira Andrade 
Neide Luzia de 
Rezende 
Valdir Heitor 
Barzotto 
Elaboradora 
Maria Lúcia V. de 
Oliveira Andrade 
Nesta tirinha, o narrador-personagem conta a sua história em 1a pessoa, 
mas no momento em que instaura outra personagem, o anjo torto, o narrador 
passa a palavra para essa personagem, afastando-se da cena. Nos quadrinhos, 
o recurso usado é o balão, que contém a fala literal da personagem: “Vai ser 
rato de sebo na vida!” ou “ Você bem que podia ajudar, né???”. 
...... .......... 
Observemos, agora, como se dá o uso desse recurso em uma narrativa 
literária: 
(2) 
Governar 
Os garotos da rua resolveram brincar de Governo, escolheram o Presidente 
e pediram-lhe que governasse para o bem de todos. 
– Pois não – aceitou Martim. – Daqui por diante vocês farão meus 
exercícios escolares e eu assino. Clóvis e mais dois de vocês formarão a 
minha segurança. Januário será meu Ministro da Fazenda e pagará meu 
lanche. 
– Com que dinheiro? – atalhou Januário. 
– Cada um de vocês contribuirá com um cruzeiro por dia para a 
caixinha do Governo. 
– E que é que nos lucramos com isso? – perguntaram em coro. 
– Lucram a certeza de que têm um bom Presidente. Eu separo as 
brigas, distribuo as tarefas, trato de igual para igual com os professores. 
Vocês obedecem, democraticamente. 
– Assim não vale. O Presidente deve ser nosso servidor, ou pelo 
menos saber que todos somos iguais a ele. Queremos vantagens. 
– Eu sou o Presidente e não posso ser igual a vocês, que são presididos. 
Se exigirem coisas de mim, serão multados e perderão o direito de 
participar da minha comitiva nas festas. Pensam que ser Presidente é 
moleza? Já estou sentido como este cargo é cheio de espinhos. 
Foi deposto, e dissolvida a República. 
(Andrade, Carlos Drummond de. Contos plausíveis. Rio de Janeiro: 
José Olympio, 1985, p. 83). 
Levando em conta os dados que nos interessam, podemos destacar que o 
narrador observador, em 3a pessoa, introduz o conto revelando que os garotos 
envolvidos na narrativa resolveram brincar de Governo. A personagem, Martim, 
aceita ser o Presidente e impõe suas condições. A seguir, Januário questiona 
com que dinheiro pagará o lanche do Presidente. As demais falas seguem a 
mesma perspectiva: os garotos perguntam sobre suas dúvidas em relação ao 
Governo e Martim vai respondendo a cada um. 
Ao ler toda a história, você pode constatar que o narrador reproduz a fala 
das personagens através das próprias palavras proferidas por eles. Tudo se 
passa como se nós, leitores, estivéssemos ouvindo a conversa dessas personagens, 
ou seja, como se estivéssemos em contato direto com elas. Exatamente 
por criar esse efeito é que esse tipo de discurso é denominado discurso direto. 
Esse discurso apresenta algumas marcas importantes: 
a. 
a fala da personagem é acompanhada de um verbo que explica ou anuncia 
quem fez uso da palavra (“aceitou Martim”, “atalhou Januário”, “perguntaram 
em coro”). Esses verbos são denominados verbos dicendi ou 
verbos de dizer (dizer, responder, perguntar, afirmar, retrucar e outros com 
as mesmas características). 
b. 
de modo geral, antes da fala de cada personagem usa-se travessão. Se o 
verbo de dizer for usado antes do discurso direto, usa-se dois pontos. Por 
exemplo: 
.. 
...... .. - . ..... . ... ........... 
Os garotos perguntaram em coro: 
– E que é que nos lucramos com isso? 
c. 
o tempo verbal, os pronomes e as palavras dependentes da situação são 
usadas literalmente, pois são elementos determinados pelo contexto em 
que se inscreve a personagem que está com a palavra: a personagem usa a 
1a pessoa; para interagir com o interlocutor, usa a 2a pessoa; os tempos 
verbais são ordenados em relação ao momento da fala (eu/tu-aqui-agora). 
DISCURSO INDIRETO 
Observando um pequeno fragmento do romance Helena de Machado de 
Assis, vejamos agora outro procedimento para citar a fala de uma personagem, 
o chamado discurso indireto: 
(3) 
(...) [Estácio] Cercou-a [Helena] de cuidados, buscou distraí-la, pediu-
lhe que fosse repousar um instante. Para justificar a explicação que 
dera, Helena obedeceu às instruções do irmão. Este foi encerrar-se no 
gabinete, onde se ocupou a examinar e colecionar alguns papéis. 
(In: Obra Completa. Vol. I – Romance. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 
1979, p. 324). 
Para citar a fala da personagem Estácio, o narrador não reproduz literalmente 
a fala dessa personagem, mas emprega suas palavras de narrador para 
comunicar o que Estácio pediu a sua irmã Helena. A fala de Estácio chega ao 
leitor de maneira indireta, isto é, pelas palavras do narrador; por isso tal recurso 
lingüístico denomina-se discurso indireto. 
O discurso indireto apresenta algumas características básicas: 
a. 
vem introduzido por um verbo de dizer; 
b. 
vem separado da fala do narrador por uma partícula introdutória, normalmente 
a conjunção que ou se, e não por sinais de pontuação. No fragmento 
citado, temos: pediu-lhe que fosse repousar; 
c. 
o tempo verbal, os pronomes e as palavras dependentes da situação são 
determinados pelo contexto em que se inscreve o narrador e não a personagem: 
o verbo ocorre na 3a pessoa, o tempo verbal correlaciona-se com 
o tempo em que se situa o narrador, e o mesmo ocorre com os demais 
recursos lingüísticos de situação (advérbios, pronomes etc.). 
Confrontemos o discurso direto com o indireto. 
Discurso direto: 
O pai chamou o filho e perguntou: 
– Quem quebrou este vidro, meu filho? 
Discurso indireto: 
O pai chamou o filho e perguntou-lhe quem havia quebrado aquele vidro. 
É importante notar, ainda, que na conversão do discurso direto para o 
indireto, as frases interrogativas, exclamativas e imperativas passam todas para 
a forma declarativa. 
.. 
...... .......... 
DISCURSO INDIRETO LIVRE 
Vejamos um fragmento de “Cadeia”, o terceiro capítulo do romance Vidas 
Secas de Graciliano Ramos, em que o narrador revela que a personagem 
Fabiano havia ido à cidade para comprar mantimentos, enquanto a mulher – 
Sinhá Vitória –, os filhos e a cachorra Baleia haviam ficado em casa. Depois 
de fazer algumas compras, Fabiano foi beber pinga. Quando estava na bodega 
de seu Inácio, chegou um “soldado amarelo” e o obrigou a “jogar um trinta-eum”. 
Fabiano perdeu e saiu furioso da sala de jogo. Enquanto matutava sobre 
o ocorrido debaixo de um pé de jatobá, ressurge o provocador – o soldado 
amarelo – que insulta Fabiano e prende-o. Na cadeia, Fabiano leva uma surra 
e é trancafiado na companhia de um bêbado e de outros homens que tinham 
feito uma fogueira “que enchia o cárcere de fumaça”: 
Fabiano cochilava, a cabeça pesada inclinava-se para o peito e levantava-
se. (...) 
Acordou sobressaltado. Pois não estava misturando as pessoas, desatinando? 
Talvez fosse efeito da cachaça. Não era: tinha bebido um 
copo, um tanto assim, quatro dedos. Se lhe dessem tempo, contaria o 
que se passara. 
Ouviu o falatório desconexo do bêbado, caiu numa indecisão dolorosa. 
Ele também dizia palavras sem sentido, conversava à toa. Mas 
irou-se com a comparação, deu marradas na parede. Era bruto, sim senhor, 
nunca havia aprendido, não sabia explicar-se. Estava preso por 
isso? Como era? Então mete-se um homem na cadeia porque ele não 
sabe falar direito? Que mal fazia a brutalidade dele? Vivia trabalhando 
como um escravo. Desentupia o bebedouro, consertava as cercas, curava 
os animais – aproveitara um casco de fazenda sem valor. Tudo em 
ordem, podiam ver. Tinha culpa de ser bruto? Quem tinha culpa? 
(in Vidas Secas. 53.ed. Rio de Janeiro: Record, 1984, p. 35-36). 
Nesse fragmento, não há indicadores muito evidentes dos limites entre a 
fala do narrador em 3a pessoa (narrador onisciente) e a fala da personagem 
Fabiano. Trata-se, na verdade, de um texto em que predomina o discurso indireto 
livre, ou seja, a representação da fala interior da personagem diretamente 
inserida na linguagem do narrador. 
Após uma breve introdução (“Acordou sobressaltado”), o leitor – guiado 
pelo narrador – já se encontra dentro da consciência de Fabiano e começa a 
“ouvir” o que a personagem “fala” interiormente, na medida em que as idéias 
vão surgindo. 
Para esclarecer melhor, confrontemos um enunciado retirado do texto (em 
discurso indireto livre) com os correspondentes em discurso direto e indireto. 
Discurso indireto livre 
Acordou sobressaltado. Pois não estava misturando as pessoas, desatinando? 
Discurso direto 
Fabiano acordou sobressaltado e começou a pensar: Pois não estava 
misturando as pessoas, desatinando? 
.. 
...... .. - . ..... . ... ........... 
Discurso indireto 
Fabiano acordou sobressaltado e começou a pensar que poderia estar 
misturando as pessoas, desatinando. 
A partir dos exemplos, você pode notar que o discurso indireto livre cor-
responde a uma espécie de discurso indireto do qual foram excluídos os verbos 
de dizer, que servem para anunciar a fala das personagens, e a partícula 
introdutória (que, se). No fragmento do capítulo “Cadeia”, predominam as 
formas verbais do pretérito imperfeito do indicativo, na 3a pessoa do singular. 
Cabe lembrar que o pretérito imperfeito do indicativo sempre foi o mais adequado 
às descrições e narrativas. Seu efeito principal é transportar o leitor a 
uma época passada e descrever o que então era presente. O pretérito perfeito 
do indicativo aparece em dois momentos importantes, apenas dentro da linguagem 
do narrador: quando se descreve a personagem em “close-up”, preparando 
a abordagem de sua consciência (“Acordou sobressaltado”), e quando 
após o trecho em discurso indireto livre o narrador retoma a sua própria 
linguagem para acrescentar novas informações (“Ouviu o falatório”). 
Outro ponto a destacar é que no discurso indireto livre as ordens, súplicas, 
pedidos, perguntas são conservados nas formas imperativa e interrogativa. 
Nele, destacam-se os elementos expressivos, as exclamações, interjeições etc. 
Atividades 
1. Transforme os trechos que estão elaborados em discurso indireto para discurso 
direto, e depois explique os recursos lingüísticos empregados: 
a. Paulo balançou a cabeça e respondeu que não tinha a mínima idéia. 
b. Ana concordou que era a melhor solução. 
c. Quando o gerente chegou, perguntou ao segurança quem havia quebrado 
a vidraça. 
2. O trecho abaixo, extraído do romance Vidas Secas, apresenta um segmento 
em discurso indireto livre. Identifique-o e, a seguir, construa esse mesmo fragmento 
em discurso direto e depois em discurso indireto. 
.. 
...... .......... 
Baleia encostava a cabecinha fatigada na pedra. A pedra estava fria, 
certamente sinhá Vitória tinha deixado o fogo apagar-se muito cedo. 
Baleia queria dormir. Acordaria feliz, num mundo cheio de preás. E 
lamberia as mãos de Fabiano, um Fabiano enorme. As crianças se esponjariam 
com ela, rolariam com ela num pátio enorme, num chiqueiro enorme. 
O mundo ficaria todo cheio de preás, gordos enormes. (p.91) 
3. Leia o cartum criado por Quino, na página seguinte. Observe que o discurso 
reportado (citação) é usado para reforçar as nossas próprias idéias, mas 
pode substituir as palavras quando não se tem nada a dizer, como ocorre nesse 
texto. A seguir, crie um texto em que você possa utilizar as falas das personagens 
retratadas pelo cartunista. 
.. 
...... .. - . ..... . ... ........... 
Fonte: Quino. Artes e partes. Lisboa: Dom Quixote, 1982. 
.. 
...... .......... 
SUGESTÕES DE LEITURA 
Se você deseja conhecer outras obras de literatura em que os autores empregam 
o discurso indireto livre, pode escolher, por exemplo, textos de Machado 
de Assis, Aluísio de Azevedo, Raul Pompéia, José Lins do Rego, Guimarães 
Rosa, entre outros. Como sugestão, indicamos o romance João Miguel 
de Raquel de Queiroz, publicado em 1932. 
Para saber mais sobre histórias em quadrinhos, leia o livro Como usar as 
histórias em quadrinhos em sala de aula de Alexandre Barbosa, Paulo Ramos, 
Túlio Vilela, Ângela Rama e Waldomiro Vergueiro. São Paulo: Contexto, 
2004. 
Ainda sobre quadrinhos, visite os seguintes sites: 
www.fabricadequadrinhos.com.br 
www.custodio.net 
.. 
Unidade 3 
Níveis de significação do texto: 
significação explícita, significação implícita, 
denotação e conotação 
Unidade 3 
Níveis de significação do texto: 
significação explícita, significação implícita, 
denotação e conotação 
Em muitos discursos, como o literário e o humorístico, significados paralelos 
sobrepõem-se ao significado denotativo de um termo – também conhecido 
como sentido básico, “literal” ou “de dicionário”. Pode-se dizer que, 
devido a uma estratégia de construção textual, cria-se um efeito de sentido 
chamado, nesse caso, de sentido conotativo. 
Geralmente, os textos denotativos não empregam palavras às quais possam 
ser atribuídos múltiplos sentidos, isto é, evitam termos polissêmicos (termos 
com várias significações, como “a cabeça do alfinete”; “o cabeça do 
grupo”; “dor de cabeça”). Quando isso não é possível, estabelecem orientações 
que delimitam o sentido textual por meio do contexto. 
Por outro lado, os textos conotativos utilizam intensamente termos polissêmicos 
ou construções ambíguas, e devem ser lidos a partir dos vários sentidos 
que as palavras evocam. Nesse tipo de texto, o que importa não é tanto o 
seu sentido evidente, mas a sua capacidade de sugerir e criar efeitos de sentido 
múltiplos. 
Vejamos a tirinha. Abaixo: 
(1) 
Organizadores 
Maria Lúcia V. de 
Oliveira Andrade 
Neide Luzia de 
Rezende 
Valdir Heitor 
Barzotto 
Elaboradora 
Maria Lúcia V. de 
Oliveira Andrade 
A graça desse texto pode ser explicada pelo jogo de palavras construído 
pelo enunciador. Ela resulta do duplo sentido que a palavra chato adquire no 
contexto. O adjetivo chato, relacionado ao formato do planeta na região polar, 
significa plano, achatado, sem relevo. Entretanto, quando referido à situação 
(atmosfera ou clima psicológico) do planeta nos domingos sem futebol, 
expressa a idéia de aborrecido, tedioso, maçante. 
Esse jogo de linguagem que instaura o humor está relacionado a um uso 
da linguagem. No sentido denotativo ou literal, o termo chato significa plano, 
...... .......... 
mas no uso conotativo ou figurado, principalmente empregado na variante 
popular ou informal da língua, carrega a idéia de maçante, tedioso. 
Os textos publicitários se utilizam muito da ambigüidade de sentido para 
chamar a atenção do leitor. Observe o exemplo: 
(Texto publicado no Guia da Folha de S. Paulo, de 13 a 19 de agosto de 
2004, contracapa). 
A palavra câmbio, neste anúncio, apresenta duplicidade de sentido: 
a. 
câmbio (substantivo derivado do verbo cambiar) significa troca ou permuta 
de moeda estrangeira; 
b. 
câmbio de automóvel: alavanca que serve para trocar a marcha do veículo, 
fazendo-o andar. 
Como o assunto economia é complexo, o jornal Folha de S. Paulo busca, 
com o anúncio, divulgar o caderno de economia “Folha Dinheiro” por meio 
de uma linguagem simples, visando a tirar desse tema a carga que todo brasileiro 
lhe dá de ser muito específico e que só pode ser compreendido pelos 
indivíduos que têm conhecimento da área. Para isso, introduz o enunciado 
com uma comparação: “Economia é como carro”, e a partir daí pode usar a 
palavra câmbio e instaurar no texto o seu sentido, baseado também na duplicidade 
de “para frente e para trás” em termos de espaço físico e de “espaço” 
em relação a desenvolvimento. 
Atividades 
1. Leia a charge colocada a seguir, retirada do jornal Folha de S. Paulo, em 
11/04/2004, 1o caderno, página 2, na seção intitulada “Opinião”. Para compreender 
o significado desse texto, é preciso analisar a situação discursiva, 
observando quem são as personagens representadas nessa caricatura. Ou seja, 
você precisa relacionar o que está ocorrendo no quadro representado e o que 
de fato acontece no contexto sócio-hitórico do leitor do referido jornal. A 
seguir, procure explicar o jogo de palavras que cria o humor dessa charge. 
.. 
...... .. - . ..... . ... ........... 
2. Vejamos os poemas: 
Lâmina 
Leio no brilho do teu olho 
Meu corpo – dado como morto – 
Re-nascido. 
Escrevo na folha do teu corpo 
Meu nome – antes sem voz nem paz – 
Re-citado. 
Calado e inteiro ao teu lado 
Te ofereço a face 
Te estendo a mão 
E estou ao alcance da tua alma. 
Calma, eu posso te ver em mim 
E me ver em ti: 
Corpo e Alma: 
Reflexos, ecos, pedaços completos: 
Amor. 
(Bedani, Sílvio. Quadrívio. São Paulo: Plêiade, 1997, p. 25.) 
.. 
...... .......... 
Nome 
algo é o nome do homem 
coisa é o nome do homem 
homem é o nome do cara 
isso é o nome da coisa 
cara é o nome do rosto 
fome é o nome do moço 
homem é o nome do troço 
osso é o nome do fóssil 
corpo é o nome do morto 
homem é o nome do outro 
(Antunes, Arnaldo. Na virada do século – Poesia de Invenção no Brasil. 
São Paulo: ETCetera, 2002, p. 69) 
Procure explicar o efeito de sentido produzido pelas escolhas lexicais feitas 
pelos autores de cada texto, relacionando com o título dos poemas. 
SUGESTÕES DE LEITURA 
Para saber mais sobre denotação e conotação, leia os capítulos referentes 
a esse tema e também ao uso do sentido figurado por meio de construções 
metafóricas e metonímicas no livro Para entender o texto: leitura e redação de 
José Luiz Fiorin e Francisco Savioli Platão, publicado pela Ática, em 1990. 
Procure ouvir um CD de Itamar Assumpção, pretobrás – por que eu não 
pensei nisso antes..., cujas letras apresentam um redimensionamento polissêmico 
das palavras. Segundo os críticos, as músicas são de excelente qualidade, 
o humor é ácido e inteligente, há trocadilhos e jogos de linguagem, que 
fazem com que as letras mereçam ser ouvidas com bastante atenção. Consulte 
o site www.atracao.com.br e saiba mais sobre a obra. 
Leia mais sobre a atividade da escrita revelada, de modo significativo, 
neste depoimento de Graciliano Ramos: 
Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas 
fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a 
roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no 
novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, 
duas vezes. Depois enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando 
a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais 
uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. 
.. 
...... .. - . ..... . ... ........... 
Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada 
na corda ou no varal, para secar. 
Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra 
não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita 
para dizer. 
(Graciliano Ramos, em entrevista concedida em 1948) 
.. 
Unidade 4 
Intertextualidade 
Unidade 4 
Intertextualidade 
Organizadores 
Maria Lúcia V. de 
Oliveira Andrade 
Neide Luzia de 
Rezende 
Valdir Heitor 
Barzotto 
Elaboradora 
Maria Lúcia V. de 
Oliveira Andrade 
O termo intertextualidade é usado para significar que há uma relação entre 
textos, ou seja, tudo aquilo que é dito, expresso por um falante ou por um 
enunciador não pertence somente a ele, na medida em que em um discurso 
são percebidas outras “vozes” que podem ser identificadas ou não, distantes 
ou anônimas, impessoais ou mesmo imperceptíveis que ecoam durante o processo 
de produção. Esta noção de “vozes” nos auxilia a compreender a intertextualidade 
como a propriedade que têm os textos de apresentar, de modo 
explícito ou não, a presença de outros textos e, valendo-se desse fator de 
organização textual, gerar o sentido pretendido. 
Cabe ainda destacar que o termo intertextualidade foi proposto por Júlia 
Kristeva, na década de 60, para designar o processo por meio do qual o texto 
se constrói; sendo todo texto “absorção e rejeição de outro texto”. Essa definição 
leva outra lingüista, a professora Eni Orlandi, em 1983, a estabelecer a 
noção de incompletude, isto é, todo texto é necessariamente incompleto, dada 
sua relação com outros textos e com o conhecimento de mundo do alocutário 
(leitor / ouvinte). 
Na unidade 2, trabalhamos com uma tirinha de “Rato de Sebo” em que o 
enunciador faz uso da intertextualidade para construir o seu texto e criar a 
ironia. O enunciador apresenta a narrativa, em 1a pessoa, com as seguintes 
palavras: “Quando nasci veio um anjo torto e disse....”. A seguir, temos a voz 
do próprio anjo em discurso direto: “Vá ser rato de sebo na vida”. Para um 
leitor que tenha um conhecimento enciclopédico (também denominado conhecimento 
de mundo, que pode ser adquirido por meio de leitura e estudo 
ou de modo informal) a respeito da literatura brasileira, vai reconhecer de 
imediato a relação com um outro texto: o poema intitulado “Poema de sete 
faces” de Carlos Drummond de Andrade, que integra a obra Alguma Poesia. 
Nesse poema, podemos ler na primeira estrofe: 
(1) 
Quando nasci, um anjo torto 
desses que vivem na sombra 
disse: Vai, Carlos! ser gauche1 na vida. 
A expressão anjo torto empregado no poema conota para o termo anjo 
um efeito divergente do seu significado original de “ser celestial repleto de 
bondade e protetor dos humanos”, e esse sentido é reforçado pelo verso “desses 
que vivem na sombra”, que contraria a idéia de que os anjos vivem na 
1. Adjetivo francês que significa “sem jeito”. 
...... .. - . ..... . ... ........... 
“luz” e são “seres iluminados”, já que a sombra – ou as trevas – seria o lugar 
daqueles que não são bons, ou seja, os anjos caídos. 
Entretanto, na tirinha o termo anjo é empregado em seu sentido denotativo; 
o anjo é torto, ou seja, “não é reto, é curvado” e isso somente é comprovado 
no último quadrinho: o anjo é torto porque carrega livros pesados. 
A ironia instaurada na tirinha é provocada pela descoberta do segredo do 
anjo, e não de suas palavras, como seria de se supor, fazendo a relação com os 
versos de Drummond; ou seja, o que importa é saber o porquê de o anjo ser 
torto. O leitor que estabelece essa relação intertextual consegue um grau de 
compreensão maior, fazendo uma leitura mais profunda do texto. 
É importante lembrar as palavras de Roland Barthes, estudioso francês 
que em 1974 afirmou: “Todo texto é um intertexto; outros textos estão presentes 
nele, em diversos níveis, sob formas mais ou menos reconhecíveis”. 
Além dessa intertextualidade, presente em todo e qualquer texto, pode-se 
falar, ainda, da intertextualidade em sentido estrito: a das citações, referências, 
discurso relatado, retomadas. Constituem também exemplos a intertextualidade 
que aparece na paráfrase (um texto B restaura, total ou parcialmente, o 
conteúdo do texto A, por exemplo as Fábulas de La Fontaine) e na paródia 
(um texto B apresenta uma imagem invertida do texto A, por exemplo: Fábulas 
Fabulosas de Millôr Fernandes). Nestes casos, o leitor necessita de um 
repertório que o habilite a identificar os textos superpostos. 
Vejamos a letra da música “Os argonautas” de Caetano Veloso, produzida 
em 1969. 
.. 
...... .......... 
(2) 
Os argonautas 
o barco 
meu coração 
não agüenta 
tanta tormenta 
alegria 
meu coração 
não contenta 
o dia 
o marco 
meu coração 
o porto 
não 
navegar é preciso 
viver não é preciso 
o barco 
noite no teu tão bonito 
sorriso solto perdido 
horizonte 
madrugada 
o riso 
o arco 
da madrugada 
o porto 
nada 
navegar é preciso 
viver não é preciso 
o barco 
o automóvel brilhante 
o trilho solto o barulho 
do meu dente em tua veia 
o sangue o charco barulho lento 
o porto 
o silêncio 
navegar é preciso 
viver não é preciso 
navegar é preciso 
viver 
.. 
...... .. - . ..... . ... ........... 
(in: Literatura Comentada. Seleção de textos, notas, estudos biográficos, 
históricos e críticos por Paulo Franchetti e Alcyr Pécora. São Paulo: 
Abril, 1981, p. 56-57) 
Segundo os organizadores do volume sobre Caetano Veloso, publicado na 
obra Literatura Comentada, o compositor revela certo gosto pela “construção 
de versos a partir da correlação entre palavras ou conjuntos de palavras que, 
usualmente, não são empregadas lado a lado” (p.43). Ainda para esses estudiosos, 
a disposição gráfica em que o poema foi colocado não é a única possível, 
na medida em que a própria escolha já indica certa orientação para um 
tipo de leitura; entretanto, essa disposição está baseada na maneira como o 
poema é cantado pelo próprio compositor na versão de 1969. 
Ao ler o texto, observamos que com os versos “navegar é preciso / viver 
não é preciso” o enunciador faz menção aos navegadores antigos e, certamente, 
ao texto “Palavras de Pórtico” escrito pelo poeta Fernando Pessoa, que 
diz o seguinte: 
Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa: “Navegar é preciso; 
viver não é preciso”. 
Quero para mim o espírito desta frase, transformada a forma para a 
casar com o que eu sou: Viver não é necessário; o que é necessário é 
criar. 
Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso. Só quero torná-la 
grande, ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a (minha alma) a 
lenha desse fogo. 
Só quero torná-la de toda a humanidade; ainda que para isso tenha de a 
perder como minha. 
Cada vez mais assim penso. Cada vez mais ponho na essência anímica 
do meu sangue o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir 
para a evolução da humanidade. 
É a forma que em mim tomou o misticismo de nossa Raça. 
(in: Pessoa, Fernando. Obra Poética. 6a.ed. Rio de Janeiro: Editora Nova 
Aguilar, 1976, p. 15) 
A relação intertextual estabelecida permite compreender o texto de maneira 
mais eficaz e faz o leitor criar um outro olhar para os versos do poeta Caetano 
Veloso, encontrando talvez a dimensão do domínio que ele tem das palavras. 
Atividades 
1. Leia a letra da música “Bom Conselho” de Chico Buarque de Holanda. 
Você perceberá que o texto é feito com provérbios ou ditados populares, só 
que eles aparecem invertidos. Faça um levantamento desses provérbios espalhados 
pelo texto e tente reconstruí-los em sua forma original. 
.. 
...... .......... 
Bom Conselho 
Ouça um bom conselho 
Que lhe dou de graça 
Inútil dormir 
Que a dor não passa 
Espere sentado 
Ou você se cansa 
Está provado 
Quem espera nunca alcança 
Ouça, meu amigo 
Deixe esse regaço 
Brinque com o meu fogo 
Venha se queimar 
Faça como eu digo 
Faça como eu faço 
Aja duas vezes antes de pensar 
Corro atrás do tempo 
Vim de não sei onde 
Devagar é que 
Não se vai longe 
Eu semeio o vento 
Na minha cidade 
Vou pra rua e bebo a tempestade 
2. Ainda em relação ao texto anterior, busque refletir sobre o significado da 
utilização do provérbio, que pode ser considerado uma espécie de “clichê ou 
chavão de pensamento”. Quem o utiliza? Para que serve? Ou em que situação 
ele é empregado? O que representa a “sabedoria proverbial”? 
3. Você consegue estabelecer alguma correspondência entre o provérbio e a 
estrutura social? De modo geral, em que tipo de sociedade os provérbios são 
utilizados? Qual o sentido da inversão dos ditados populares no texto de Chico 
Buarque de Holanda? 
.. 
...... .. - . ..... . ... ........... 
SUGESTÕES DE LEITURA 
Para saber mais sobre escritores contemporâneos que fazem uso de estratégias 
de construção textual como paráfrase e paródia, visite o site www. 
releituras.com 
Leia ainda o livro Fábulas Fabulosas de Millôr Fernandes, publicado pela 
editora Nórdica, do Rio de Janeiro, 1963. 
Pesquise sobre textos que estabelecem diálogos intertextuais entre si. Vale 
a pena conferir: 
a. 
“Canção de Exílio” de Gonçalves Dias, in Presença da literatura brasileira: 
das origens ao romantismo, obra organizada por José Aderaldo Castello 
e Antonio Candido. São Paulo: Difel, 1974, p. 262. 
b. 
“Canto do Regresso à Pátria” de Oswald de Andrade, in Presença da literatura 
brasileira: modernismo, obra organizada por José Aderaldo Castello 
e Antonio Candido. São Paulo: Difel, 1977, p. 81. 
c. 
“Canção do Exílio” de Murilo Mendes, in Presença da literatura brasileira: 
modernismo, obra organizada por José Aderaldo Castello e Antonio 
Candido. São Paulo: Difel, 1977, p. 181. 
d. 
“Sabiá” de Tom Jobim e Chico Buarque, no site www.chicobuarque.com.br 
Em relação ao “Poema das sete faces” de Carlos Drummond de Andrade – 
in Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2002, p.5 –, é interessante 
que você o confronte com a canção “Até o fim” de Chico Buarque, escrita em 
1978. Você poderá encontrá-la no endereço www.chicobuarque.com.br/letras/ 
ateofim_78.htm 
Sobre a obra de Caetano Veloso, veja o site www.caetanoveloso.com.br 
Bibliografia 
FIORIN, José Luiz e SAVIOLI, Francisco Platão. Para entender o texto: 
leitura e redação. São Paulo: Ática, 1990. 
FIORIN, José Luiz e SAVIOLI, Francisco Platão. Lições de texto: leitura e 
redação. São Paulo: Ática, 1996. 
KOCH, Ingedore G. V. Introdução à Lingüística Textual: trajetória e grandes 
temas. São Paulo: Martins Fontes, 2004. 
NEVES, Maria Helena de Moura. Gramática de usos do português. São 
Paulo: Editora da UNESP, 2000. 
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...... .......... 
Sobre a autora 
Profa. Dra. Maria Lúcia da Cunha Victório de 
Oliveira Andrade 
Doutora em Semiótica e Lingüística Geral, é professora de Filologia e Língua 
Portuguesa da USP, autora de Relevância e contexto. São Paulo: Humanitas, 
2001; e co-autora de Oralidade e Escrita: perspectivas para o ensino de língua 
materna. São Paulo, Cortez, 1999. 
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